O Aperta o Cinto nasceu muito antes de virar um blog onde publico minhas histórias aqui no WordPress. Dei vida a ele há meses antes de colocar essas histórias no ar. Em um arquivo do Word eu passei a escrever um dos meu diversos projetos e manias de escrever livros, crônicas, histórias que nunca eram finalizadas. Em uma das pastas existe o projeto do ‘futuro livro‘ que eu pensava em fazer. Uma mania idiota que eu tinha de sonhar que um dia minhas histórias loucas e desvairadas poderiam ser publicadas por alguma editora, ou coisa do tipo. Depois de um certo tempo, muita maconha e bastante história para contar eu resolvi criar histórias avulsas e pequenos textos para publicar em um blog online, no qual teria o mesmo títuloque teria o livro ‘Aperta o Cinto: o diário de um baladeiro de plantão‘.
O projeto nunca saiu da fase ‘beta‘ e o começo do livro era datado, como se fosse um diário em que eu era o principal personagem contando minhas histórias e segredos. E fuçando nos meus arquivos hoje, anos depois, eu achei esse arquivo com o rabisco da ‘Parte 1.doc‘ do que viria a ser o livro. Relendo e lembrando do começo de como toda essa loucura da vida de balada começou eu caí em nostalgia e decidi compartilhar com vocês, leitores do blog, que sempre pedem pra eu postar mais e mais o começo já escrito dessa história louca que fez eu me apaixonar pela noite de baladas e ferveções durante todos esses anos. Eu sei que o assunto foge um pouco das informações que muitos de vocês vem buscar por aqui, mas pra quem curte e se interessa nas histórias do mundo gay envolvendo drogas, música e ferveção irá gostar de conhecer esse lado mais extravagante de quem eu realmente sou.
A história começa contando a primeira vez que eu tomei bala, na Flex, em 2006. Ela termina um pouco estranha pois é um projeto não finalizado, mas vale apena ler. Quem gostou, comenta.
Aperta o Cinto: Diário de um baladeiro de plantão.
por Mister M
Quinta-Feira, 18 de Setembro
Começar um novo diário nem sempre é fácil. A gente quer que tudo fique perfeito e todos os dias estejam marcados nas páginas que, obviamente, eu não deixaria ninguém lê-las. Mas tudo bem, após a última tentativa frustrante de criar um “Diário de Paixão” e esse terminar como um “Diário de Rascunho de Magia”, decidi que esse será um diário autêntico e que eu colocarei aqui tudo o que eu realmente FIZER. Sim, FIZER. Sem esperanças e temores. Sem projetos e pensamentos do que as coisas poderiam acontecer. Apenas a verdade! Vou tentar ser mais autêntico comigo mesmo. E quem sabe, depois de um tempo, reler para tentar desvendar quem eu realmente sou. Gostei disso, parece excitante…
Fazia tempo que eu não tinha um modo de desabafar comigo mesmo de uma maneira em que eu possa me analizar. Bom, eu já tive outros diários, blogs, sites, livejournal, twitter, orkut, facebook, myspace… mas tudo isso nunca funciona. NUNCA! Coisas virtuais ou românticas apenas servem para você moldar uma pessoa que você deseja ser, mas que nunca será. Então, caminhando hoje pelas ruas da cidade, eu decidi me presentear com esse lindo diário que eu vi na papelaria. Tudo bem, ele é bastante gay para ser apersentado aos outros como ‘diário’. Mas quem apresenta seu diário as outros, não é mesmo? Ainda mais um diário gay de um gay. Pensando bem, eu deveria ter comprado um com cadeado. Muita gente curiosa nessa casa, sabe?
Sexta-Feira, 19 de Setembro
Até que estou animado com a idéia de ter um novo diário. Carregar muitos segredos nem sempre é bom. É preciso desabafá-los e tirá-los de você. E esse vai servir perfeitamente para isso.
Ontem foi o dia do TRIO: Eu, Pedro e Flávio. Nada de normal. Só um estresse natural porque a tabata não se encontrava na Rua da Raia. Mas, como eu sou esperto, sempre acabo pegando as lembranças da tabata e construindo uma nova salvação. 10 pontos para mim! Estou pensando quando que ela vai voltar a dar as caras. Mais tarde eu vou voltar lá para ver se ela chegou… Queiramos que sim! Bom, terminar de passar a tarde com os meninos agora. Até mais!
Sexta-Feira, 19 de Setembro – 23:20
Olha eu aqui de novo. Queria ver como que é escrever em um diário chapado. Bom, como de costume, a tabata chegou e eu estou belíssima. Foi divertido sair com as meninas hoje. A Pedro e a Flávio são um tipo de terapia para mim… claro que sem a tabata nada disso funciona, mas quando ela está com você, tudo parece ficar possível. Minhas pernas doem de tanto dançar Get Me Bodied da Beyoncé. Maldita negona que faz eu me acabar chapado dançando até o chão… hahahaha! Aiii eu to com fome e to com sono e não sei o que fazer. Aliás, não sei o que eu faço amanhã.
Hoje o telefone tocou e de repente: “Alô, delicia?”. Eu fiquei imaginando quem seria com aquela voz masculina forçada. “Quem tá falando?”, eu respondi aéreo. “Como assim você não sabe quem tá falando, meu delícia?”, respondeu de volta. Lógico, o único que me chama de delícia: Paulinho Biel. Mas o que diabos ele quer comigo numa sexta-feira a noite? E eu todo fora de mim!!! “Eu tô ligando para avisar que amanhã você irá comigo para a balada, ta entendendo?”, ele disse. Balada! Gente, faz tanto tempo que eu não vou para uma balada. Acho que a última foi a Blue Space há uns 6 ou 7 meses atrás.
Sempre tem aquele momento que, quando te ligam para saber se você quer sair, você para e fica pensando se tem dinheiro ou como ir e bla bla bla… Eu nem fui na faculdade hoje de novo e talvez eu possa ir com o cartão do ônibus para não pagar a passagem. Bem, sobra mais para a bebida. E então ele disse uma palavra mágica que me fez despertar de meus pensamentos: “Vai ser VIP!”. VIP, VIP, VIP… É uma palavra que ecoa na sua cabeça né? O que tem de melhor que uma balda VIP? “FECHOU!”, eu vou. Quer dizer, amanhã é sábado? Não sei, depois eu decido, to muito chapado pra decidir alguma coisa agora… quero comer e dormir… tchau.
Sábado, 20 de Setembro – 14:15
Acabei de acordar. Fiquei uns trinta minutos rodando na cama para criar coragem para esticar o braço do lado e acender a luz para pegar o diário. Tive um sonho estranho essa noite. Sonhei que alguém corria atrás de mim na pracinha e quando chegou bem perto, sacou uma arma e atirou em mim. Nossa, como doeu… Mesmo sendo sonho, acordei com uma sensação péssima de “dor imaginária”.
Ainda bem que tem taba… vou fechar um fino e fumar sozinho. Não sei o que fazer hoje… Tem aquela balada que o Paulinho falou,mas nem sei qual o nome. Só lembro que é VIP. Eu acho que eu vou.
Sábado, 20 de Setembro – 15:43
Chapaaaaaaaaaaaaaaaaaado… hahahahahahahaha! Aiii caralho, eu vou pra balada hoje sim, que se dane. Não aguento mais essa cidade de bosta que nunca tem nada pra fazer.
- Lembrete:
* Roupa para ir para balada.
* Limpar meu tênis.
* Guardar as pontas.
* Arrumar meu quarto.
* Ligar para o Paulinho e perguntar o nome da balada.
* Ver o horário do ônibus e dinheiro pra levar.
Sábado, 20 de Setembro – 20:09
Okey diarinho… se comporte bem porque eu, Mister M, estou indo para a balada… V I P ! ! ! E eu nem sei o nome do lugar… Estou aqui sentado na rodoviária sozinho esperando por algum sinal de vida do meu amigo que não chega e nem liga. O que me resta agora é sentar e fumar um cigarro enquanto eles decidem atender ao telefone. Odeio quando as pessoas se atrasam. Você fica meia-hora sentado sem nada mais a fazer do que agonizar com o atraso alheio. Tudo bem, eu também não sou lá pontual, mas pelo menos atendo o telefone! Ah, ele chegou… Fui! XoXo
Sábado, 20 de Setembro – 20:20
FLEX – esse é o nome da balada. Nunca fui e nunca nem ouvi falar, mas pelo o que ele me disse, vai ser um arraso. Beijos pra quem fica!
Domingo, 21 de Setembro – 08:45
CARALHO! Caralho, caralho… sem palavras. O que foi tudo isso? Me expliquem! Tipo assim, eu ainda estou muito louco e parece que até o vento que me toca me dá um puta tesão. Sabe aquela sensação de que até a camisa que você está vestindo te excita? Não me perguntem o por quê. Como eu não conhecia isso antes? A balada foi incrível…
Cheguei com o Paulinho meia noite na balada e estava bombaaaando… Uma fila gigante e aí entramos. O espaço é lindo, tem área externa e 3 banheiros. Só gente maneira e um som do caralho. Eu, que nem sou de ficar paquerando e beijando nas baladas, arrasei beijando 3. Sim, leiam bem isso, BEIJEI TRÊS. E um deles era tão… nossa, tão delícia. Eu estava entrando da área externa para a pista, muito louco depois de tomar ¼ de uma bala que meu amigo me enfiou na boca, dei de cara com ele. Sabe quando a pessoa vem em sua direção e, de repente, vocês se olham e não desgrudam o olhar e não falam nada, só se agarra e se beija? Então, foi bem assim. Acabei conhecendo o Kinho e o Alexandre, umas beashas daqui da cidade que também foram na balada.
Agora, sem noção. Eu ainda tô muito louco e minha pupila está dilatadíssima. Parece que um arrepio constante passa todo pelo meu corpo e tô com um tesão do caralho. Sabe? Excitado… tudo bem duro… hahaha Acho que deve ser da balinha que o Kinho me deu. Tudo que eu lembro é dele passando por mim e falando “Mister, abre a boca”. Eu sabia bem o que era. Já tinha ouvido falar do Ecstasy e só não havia experimentado até então porque nunca tive oportunidade. Lógico que eu não ia sem nada para a balada. Acabei passando na biqueira e levei 5 pinos de padê. Pó do puro. Sem contar uma bebida aqui e outra ali.
Uma vontade enorme de mijar. Parece que é um alívio gigantesco mijar. Estou ligadão ainda e sem sono. Acabei de chegar em casa e minha mãe não pode perceber que eu estou muito louco, por isso estou trancado aqui no quarto. Vou deitar e tentar dormir, ou sei lá… ficar lembrando de como foi essa noite… até mais.
Por enquanto é só isso… o projeto ainda não foi finalizado. Quem gostou comenta aê e diz o que achou.
Aperta o Cinto! 